A mentirinha nossa de cada dia
A questão entre a fidelidade de um casal vai muito além das relações extraconjugais. Me parece que este é justamente um dos maiores problemas dos relacionamentos amorosos. Pequenos atos de omissão e de mentira para salvar a própria pele (ou poupar a pele do parceiro) vão criando uma grande distância afetiva entre os pares. Nunca vi maior agente de separação do que os segredos! A curto prazo eles podem poupar a relação. A longo prazo, dificilmente isso se aplica.
Os motivos para tantos pontos cegos são muitos, mas normalmente envolve pelo menos um desses dois fatores: uma falta contra o relacionamento ou um companheiro que não respeita a individualidade do outro.
Um dos tipos que mente tende à ser cercado de medos a respeito das consequências de seus desejos. Então ele escolhe o desejo, mas não tem coragem de assumi-lo (ou melhor dizendo, assumir-se). Tão bom seria se todos tivessem a coragem de ser em essência e em aparência a mesma coisa. Talvez a questão do distanciamento que a mentira provoca nos relacionamentos seja de pouca importância, sendo muitíssimo mais grave o distanciamento que ela causa em nós próprios.
A partir do momento que meu parceiro só pode entrar em determinadas áreas de minha vida aparece um limite. Um muro, que deixa bem claro: você só pode entrar até aqui! E muitos fazem isso não porque possuem um grande segredo para esconder, mas sim porque temem que o parceiro invada seu território e se torne o novo ditador, dizendo quem pode e quem não pode entrar nessa cidade. Enfim, medo de que o outro se transforme no chefe dos sistemas legislativo, executivo e judiciário de seu próprio território. E que bom seria se ninguém confundisse pessoas com propriedades. Nesse caso o medo é o de fundir-se (e confundir-se), de perda da independência.
Algumas pessoas tem tanto medo disso que quando começam a gostar de alguém logo querem correr para bem longe! Mas aqueles que já se conhecem muito bem não se confundem mais, mesmo se entregando ao amor!
Sem palavras, trazendo a luz o vinagre mor das relações.
Parabéns novamente por mais esta obra.