Medo de ser grande
Na clínica – e na vida – não é incomum encontrar pessoas que quase alcançam suas metas, que quase terminam seus projetos, que quase se estabelecem num novo patamar em suas carreiras. Esse obstáculo que as impede de atingir o alvo ganha muitos nomes, às vezes nomes corretos, às vezes apenas desculpas.
Hoje gostaria de escrever especialmente sobre aquelas pessoas que tem medo do sucesso e justamente por isso empacam na progressão. Quando todas as outras condições necessárias estão presentes para que isso aconteça é possível que seja o medo deste novo patamar que trave a concretização do projeto. Mas o que há de assustador num novo patamar?
Muitas vezes o único aspecto negativo é uma tremenda experiência de ansiedade, de estar tão contente e excitado com a conquista que o ego sente-se oprimido e esmagado por tal estado interno. SER GRANDE. Receber muitos olhares, ter que lidar com os investimentos e expectativas alheias, ser soterrado por uma hiperestimulação perturbadora. Perder a sensação de estar no controle.
A defesa mais comum que temos para evitar estados ansiosos é isolarmos esse afeto. Fazemos isso normalmente nos isolando daquilo que o provoca – não se esqueçam que ansiedade é medo. Tomemos como exemplo outras situações de crises de ansiedade/medo e como fazemos o isolamento para ilustrar a situação: um fóbico evita entrar em contato com o objeto temido, ou alguém com pânico que acaba por isolar-se em casa para que a crise não venha.
O medo do sucesso vai ser evitado encolhendo a própria capacidade e recuando no movimento de progresso Não porque não dá conta da coisa em si – e sim porque não dá conta psiquicamente de experimentá-la.
A ansiedade (em suas variações de intensidade) é sentida pelo ego como algo ameaçador e desestruturante. Pessoas propensas a essa hiperexcitação interna vão criar defesas contra este estado na tentativa de restaurar o equilíbrio psíquico, e o recuo é a defesa mais frequente, e para piorar é um recuo inconsciente.
Por isso devemos suspeitar das justificativas que inventamos para nossas “QUASE” conquistas. Pode ser medo de sentir medo.