A clínica na Psicologia Analítica
Olá!!! Faz uma eternidade que não publico aqui. Confesso que não tenho tido muito tempo de pensar no blog, por conta das inúmeras tarefas que a vida demanda. Mas vim falar hoje sobre um pouco sobre a clínica na Psicologia Analítica. Isto é apenas um esboço, e somente sobre o que C. G. propõe como método no volume XVI/1 das Obras Completas – A prática da psicoterapia.
Quando pesquisamos o que diz Carl Jung neste volume a respeito da clínica psicológica, percebemos que ele emprega o termo “clínica” no sentido de espaço físico de atendimento psicoterapêutico, e o termo psicoterapia quando diz sobre a relação dialética entre médico-paciente. Jung vem de um tradição médica, e a psiquiatria de seu tempo atribuía às psicopatologias uma causa orgânica. O psiquiatra suíço, no entanto, em sua prática clínica num hospital psiquiátrico, elaborou sua teoria dos complexos e foi se distanciando da psiquiatria clássica por considerar que as psicopatologias poderiam ser causadas também por questões psíquicas.
A psicoterapia vem então atender à esta demanda por um tratamento psicológico, e o método clínico junguiano é por excelência definido como um método dialético, isto é, um diálogo entre duas ou mais pessoas. O encontro entre dois sistemas psíquicos, que em interação se afetam mutuamente. O paciente é visto tanto em sua generalidade quanto em sua individualidade – o que implica dizer que uma psicologia pode se valer do status de ciência enquanto visa a compreensão das universalidades humanas, ao mesmo tempo em que sua prática demanda a renúncia do saber “médico” de antemão, pois cada sujeito é carregado de individualidade e respostas genéricas como sugestões ou conselhos pouco podem fazer por ele. “[...] a parte individual é única, imprevisível e não interpretável. O terapeuta deve renunciar neste caso a todos os seus pressupostos e técnicas e limitar-se a um processo puramente dialético, isto é, evitar todos os métodos.” (JUNG, p. 18, 2011).
Diferentemente do modelo clássico da clínica psiquiátrica, em que o paciente ocupa um papel passivo, de doente, e o médico um papel ativo e de autoridade do saber, na clínica junguiana o terapeuta não é mais o sujeito ativo. Ele vivência junto ao paciente um processo evolutivo individual. Esse processo dialético depende do estabelecimento da transferência, e apesar de muitas vezes visar a “cura”, isso nem sempre está presente como o objetivo maior, pois todos os elementos da individualidade do paciente são encarados com a mesma dignidade. Curar pode pressupor uma grande modificação na personalidade do sujeito, significa tornar sadio um doente, mas quando um doente reconhece que a cura significaria renunciar demasiadamente à sua personalidade, o terapeuta deve renunciar à sua vontade de curar. E então o processo analítico será voltado para o que Jung denominou individuação – o paciente se torna aquilo que de fato ele é, e até mesmo aceitar seus sintomas, através do entendimento do sentido de sua doença. Cura e adaptação social podem aniquilar a individualidade do sujeito. A busca primeira é pela coexistência das singularidades com a coletividade.
Nesta obra, Jung também borda a multiplicidade de métodos clínicos, e busca encontrar quais pontos entre estas diferentes psicologias podem convergir no que chamamos de psicoterapia. Ele enumera quatro etapas no processo analítico:
1) Confissão – aquilo que está oculto, tanto consciente quando inconscientemente (complexos, segredos, afetos, etc.), é um fator de isolamento e perturbação psíquica. A confissão não só dos conteúdos, mas especialmente a liberação dos afetos contidos tira o indivíduo de seu exílio moral;
2) Esclarecimento – através da análise e da interpretação da transferência. As fixações infantis do paciente são reveladas pouco à pouco, e o paciente passa à tomar responsabilidade por si mesmo. O esclarecimento pode despertar forças adormecidas;
3) Educação – a adaptação e a educação para um ser social;
4) Transformação – esta etapa faz referência às coisas que não se relacionam à ser um humano normal socialmente ajustado. À quais necessidades profundas essa “alma” demanda atenção? A psique não deve ser apenas domada e ajustada – também precisa se realizar.
Por tudo o que foi exposto, fica evidente a importância que se dá à individualidade na clínica analítica, assim como a importância de trabalharmos em pé de igualdade com nossos pacientes, especialmente no que diz respeito à atividade/passividade e ao saber/não saber. A clínica é um espaço não físico, e sim relacional, dialético, de escuta e intervenção não genéricas. Vale ressaltar que na atualidade tem crescido a produção técnica sobre o manejo clínico em outros ambientes que não o clássico do consultório, especialmente sobre como trabalhar com grupos vivenciais em diversos contextos com a abordagem junguiana.
Abraços!!!
Ana Luisa Testa